A Cortina de Fumaça da "Pedagogia da Culpa": Uma Reflexão Sobre o Fracasso que Não Nos Pertence
Há muitas maneiras de ocultar a verdade, mas uma das mais eficazes — e, infelizmente, ainda em voga — é o artifício de transferir responsabilidades. Na educação, isso se materializa naquilo que alguns especialistas chamam de *Pedagogia da Culpa*: a estratégia perversa de atribuir aos professores o ônus pelos fracassos de um sistema que, há décadas, os subjuga, desinveste e ignora.
Os professores entram nas salas de aula todos os dias, enfrentam adversidades que transcendem o pedagógico, cumprem seu ofício com dignidade — quando lhes permitem — e, no fim, são apresentados como os únicos responsáveis pelo insucesso educacional. Uma narrativa conveniente, não? Afinal, é mais fácil apontar o dedo para quem está na linha de frente do que encarar os verdadeiros problemas: a desigualdade social crônica, a precarização das escolas e a lógica perversa de um sistema que prioriza números em detrimento de vidas.
Como exigir que um aluno se concentre em equações matemáticas quando a equação básica de sua sobrevivência não fecha? Quando o salário de sua família não paga o alimento do mês, quando a violência bate à sua porta, quando a escola não tem infraestrutura para recebê-lo dignamente? A aprendizagem não ocorre no vácuo — ela é fruto de condições materiais e emocionais mínimas. No entanto, em vez de enfrentar essas questões, prefere-se culpar o professor, como se ele pudesse, sozinho, compensar todas as falhas de um Estado ausente.
E o que dizer da aprovação em massa, imposta por políticas que confundem estatística com qualidade? Obriga-se o professor a carimbar diplomas vazios, sob o pretexto de "melhorar índices", enquanto se esvazia o sentido real da educação. Depois, quando o aluno chega ao ensino médio sem dominar conceitos básicos, quem é responsabilizado? O professor, é claro. Nunca o sistema que o obrigou a compactuar com essa farsa.
Educação não é produção em série. Humanos não aprendem na mesma velocidade, nem da mesma forma. No entanto, avaliações externas demandam resultados imediatos, como se o conhecimento fosse mercadoria a ser contabilizada em planilhas. Essa obsessão por métricas rápidas é o maior desserviço à educação de qualidade — e o maior fardo imposto aos professores, que veem seu trabalho reduzido a números frios, enquanto sua autonomia e sua voz são sistematicamente silenciadas.
O desgaste emocional desses profissionais é imensurável. São anos de dedicação sendo rotulados como "ineficientes", enquanto o sistema se exonera de qualquer responsabilidade. As notas baixas refletem, antes de tudo, as desigualdades que o Brasil se recusa a resolver. Escolas precárias, salários degradante, falta de apoio psicológico e pedagógico — tudo isso conspira contra o aprendizado. Mas, na hora da prestação de contas, o dedo acusador nunca aponta para onde deveria.
Chega de tratar com desprezo quem ainda acredita na educação, apesar de tudo. Os professores não são os vilões dessa história — são vítimas de um jogo de empurra que precisa acabar. Se queremos, de fato, mudar a educação, é hora de parar de buscar bodes expiatórios e assumir, com coragem, que o problema não está naqueles que ensinam, mas naqueles que se recusam a ouvir.
Professor Francis Emerson Santos
4 de maio de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário