"O Evangelho primeiro fere e, em seguida, cura; primeiro arranca, depois replanta; primeiro crucifica e, depois ressuscita."
– Steven Lawson
Essa citação nos coloca diante de um paradoxo fundamental da fé cristã. A graça de Deus, antes de nos curar, nos confronta com nossa própria fragilidade, arrancando o que está enraizado em falsos alicerces. Como a semente que precisa morrer para brotar, nossa fé também atravessa momentos de "crucificação" para que possamos experimentar a verdadeira ressurreição em Cristo.
Partindo desse princípio, podemos afirmar que, enquanto seres humanos, frequentemente resistimos a esse processo doloroso. Preferimos nos apoiar em figuras que julgamos inabaláveis, buscando segurança em líderes religiosos, pastores e mentores. No entanto, a história da Igreja — desde os apóstolos até os grandes reformadores — nos mostra que esses líderes também são falhos. Eles enfrentaram desafios, cometeram erros, e em sua fraqueza, nos revelam uma verdade essencial: é na nossa fragilidade que a graça de Deus brilha mais forte. O Evangelho nos ensina que a força de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza (2 Coríntios 12:9), e que a verdadeira glória está em depender completamente dEle.
A decepção com aqueles a quem admiramos pode gerar sentimentos de raiva, tristeza e até desilusão. Quantas vezes já questionamos nossa fé ao ver líderes falhando? É nesse momento de dor e vulnerabilidade que muitas vezes somos tentados a nos afastar. Mas é justamente nesses momentos que a graça divina se manifesta de maneira mais poderosa. Ao nos sentirmos desamparados e perdidos, somos lembrados de que nossa esperança não deve estar em homens, mas em Deus. A fé autêntica não se fundamenta nas falhas ou sucessos humanos, mas em um relacionamento pessoal e vivo com Cristo. O Senhor nos convida a olhar além das imperfeições dos outros e nos agarrar à Sua perfeição.
Partindo dessa realidade, somos desafiados a reconhecer que não existem grandes homens ou mulheres de Deus — apenas homens e mulheres profundamente dependentes da Graça e da Misericórdia divinas. Toda a grandeza está em Deus. O que vemos de especial nas pessoas é obra dEle, e não delas. O próprio apóstolo Paulo nos lembra: "Somos vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa" (2 Coríntios 4:7).
A Bíblia nos alerta repetidamente sobre confiar em seres humanos. A história está cheia de exemplos de grandes líderes que, após períodos de glória, caíram vergonhosamente. As Escrituras são claras: "Maldito o homem que confia no homem" (Jeremias 17:5). Cada vez que nos decepcionamos com alguém, somos forçados a aprender essa lição de forma dolorosa, mas necessária. Essas decepções nos ensinam a perdoar, nos fazem mais fortes — não com uma força implacável, mas com cicatrizes que nos lembram da nossa fragilidade e da misericórdia de Deus.
Diante dessas verdades, somos convidados a cultivar uma fé mais madura, reconhecendo nossa total dependência de Deus. Que possamos derrubar cada ídolo que construímos, não apenas em nossas expectativas sobre os outros, mas também sobre nós mesmos. Que todos os ídolos caiam com o pôr do sol de nossa vida, porque todos têm pés de barro, e só o Senhor permanece inabalável.
Diante dessa realidade, somos chamados a refletir sobre nossa própria jornada. A quem temos confiado nossa esperança? Será que estamos buscando perfeição nos outros ou até em nós mesmos? Que possamos abandonar essa ilusão e buscar uma fé verdadeira, firmada unicamente em Deus. Ao invés de esperarmos que outros sejam impecáveis, que nos entreguemos à graça santificadora do Espírito Santo, que nos transforma dia após dia. A caminhada cristã não é sobre homens e mulheres perfeitos, mas sobre um Deus perfeito que opera em nós Sua vontade.
Professor Francis Emerson Santos, feliz em depender diariamente da Graça e Misericórdia do Senhor!
7 de setembro de 2024.